Era para ser apenas mais um daqueles dias que a gente guarda com carinho na memória. Um sábado ensolarado, céu limpo e um grupo animado de pessoas reunidas para viver um momento especial: sobrevoar os cânions de Praia Grande, no sul de Santa Catarina, em um balão de ar quente.
O cenário era digno de cartão-postal. Famílias, casais, amigos. Todos estavam ali com os olhos brilhando de expectativa. Afinal, voar de balão é daquelas experiências que muitos colocam na lista de sonhos a realizar. Mas naquele 21 de junho de 2025, o que era sonho virou tragédia. Um acidente inesperado, doloroso e devastador marcou para sempre a vida de todos que estavam envolvidos — direta ou indiretamente.
Quando tudo desandou
Logo após a decolagem, algo saiu errado. Um dos maçaricos auxiliares, responsáveis por acionar a chama principal do balão, apresentou falha. Em segundos, o fogo tomou parte do cesto. O piloto, experiente, ainda tentou manobrar: orientou que os passageiros saltassem enquanto o balão descia. Treze pessoas conseguiram pular e sobreviver.
Mas o alívio durou pouco. Com menos peso no cesto, o balão subiu novamente — dessa vez, com oito pessoas ainda a bordo. O fogo já havia se espalhado. E, diante da impotência de quem assistia de baixo, o balão acabou caindo, em chamas, sobre uma área de mata a poucos quilômetros da decolagem.
Não deu tempo. Não houve chance. A tragédia se consumou diante do silêncio aterrador de quem esperava que aquilo tudo fosse apenas um susto.
Quem eram as vítimas?
Mais do que números, as vítimas tinham nomes, rostos, histórias, sonhos. Pessoas comuns, como eu e você, que decidiram aproveitar um dia bonito para viver algo marcante.
Andrei Gabriel de Melo, 34 anos, médico oftalmologista, queria comemorar um novo ciclo de vida.
Leise Herrmann Parizotto, médica, foi com a mãe, Leane, de 70 anos. Uma viagem de união entre gerações.
Everaldo e Janaina Rocha, casal que viajou com os filhos — que sobreviveram.
Juliane e Fábio, gaúchos que buscavam um momento especial juntos.
Leandro Luzzi, de 33 anos, técnico em patinação artística, querido por alunos e amigos em Brusque.
Cada um com seus planos, suas famílias, seus amores. Todos arrancados num momento de lazer que deveria ser seguro.
Os sobreviventes e os primeiros socorros
Treze pessoas escaparam com vida. Algumas com escoriações, outras com queimaduras leves, mas todas marcadas pelo trauma. O piloto, mesmo ferido, ajudou nos primeiros socorros. Equipes do SAMU e do Corpo de Bombeiros chegaram rápido, prestando apoio, controlando as chamas, acolhendo quem podia ser salvo.
Essas pessoas carregam agora um fardo emocional pesado: sobreviver é uma benção, mas também um desafio. Eles viram o que ninguém deveria ver. Sentiram o medo que ninguém gostaria de sentir.
E agora? As perguntas que precisam de respostas
A Polícia Civil abriu investigação. A principal hipótese é falha técnica no maçarico. O extintor de incêndio, que deveria ser usado em emergências, não funcionou. Uma perícia detalhada está em andamento, assim como a análise do equipamento pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Além disso, as licenças da empresa responsável, Sobrevoar Balonismo, estão sendo verificadas. A empresa afirma que tudo estava regularizado. Mas, depois de uma tragédia dessas, fica impossível não questionar: os protocolos de segurança são realmente suficientes?
Um momento de pausa, empatia e reflexão
A comoção é geral. Famílias destruídas, comunidades abaladas, turistas impactados. A cidade de Praia Grande, conhecida por sua beleza natural e tranquilidade, agora convive com o luto.
Mas esse não é um texto sobre números ou estatísticas. É sobre vidas. Sobre gente que saiu de casa esperando um dia especial. Sobre erros que não podem se repetir.
É hora de olhar para o setor de turismo de aventura com mais seriedade. Voar de balão é uma atividade que envolve riscos, sim. Mas isso só reforça a importância de normas bem definidas, equipamentos testados, manutenção rigorosa e pilotos preparados.
Que a dor se transforme em mudança
O acidente em Santa Catarina não pode ser só mais um caso triste que entra para as manchetes e depois é esquecido. Ele precisa servir de alerta, de lição, de virada. Precisamos garantir que nenhuma outra família passe pelo que essas passaram.
A dor dessas perdas é imensa, mas que ela gere algo maior: segurança real para os próximos voos, empatia verdadeira de quem regulamenta e responsabilidade total de quem opera. Que o céu volte a ser um lugar de sonhos — e não de despedidas.