COP30 em Belém: a Amazônia no centro do mundo

Em novembro de 2025, os olhos do mundo estarão voltados para um lugar que, até pouco tempo atrás, era visto com distância e certo exotismo: Belém do Pará, na entrada da Amazônia brasileira. Pela primeira vez na história, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas — a COP30 — será realizada no coração da maior floresta tropical do planeta. Mas o que isso significa de verdade? E como essa cidade amazônica está se preparando para receber líderes mundiais, ativistas, cientistas e milhares de vozes que lutam por um futuro mais sustentável?

Mais do que uma conferência, a COP30 é um símbolo. Um ponto de virada. Uma tentativa (que chega tarde, mas que ainda é possível) de colocar no centro da mesa de negociações climáticas os povos, territórios e culturas que há séculos vivem em íntima relação com a natureza. E Belém, com suas mangueiras centenárias, seu calor úmido e suas ruas que transbordam diversidade, vai se transformar — ou talvez, revelar-se ao mundo.


  Uma cidade em mutação: os preparativos em ritmo acelerado

Quem anda pelas ruas de Belém nos últimos meses percebe um movimento diferente. Obras por todos os lados, canteiros de construção, reformas, e muita gente trabalhando dia e noite. A cidade está se reinventando para receber um dos maiores eventos diplomáticos do mundo — e isso vai muito além de arrumar fachadas.

Estão sendo investidos mais de R$ 5 bilhões em infraestrutura, mobilidade, transporte, turismo e preservação. Um dos marcos é o Parque da Cidade, uma enorme área verde que está sendo construída no terreno do antigo aeroporto Brigadeiro Protásio. O espaço será o principal ponto de encontros da COP, mas depois ficará para os belenenses como um parque moderno, acessível e sustentável. Esse é o tipo de legado que eventos como a COP podem — e devem — deixar.

Outro projeto importante é o Porto Futuro II, que está revitalizando galpões históricos na área portuária e transformando-os em espaços de cultura, gastronomia, tecnologia e bioeconomia. É ali que o passado e o futuro da Amazônia se encontram: um território de resistência, mas também de inovação.


  Onde dormir tanta gente? Soluções criativas para hospedagem

Com a expectativa de mais de 50 mil participantes, Belém precisou pensar fora da caixa. Hotéis novos estão sendo construídos — como os das redes Vila Galé e Tivoli — e muitos acordos com plataformas como Airbnb e Booking estão sendo fechados para garantir uma variedade de hospedagens.

Mas o mais curioso é que, sim, alguns visitantes vão dormir… em navios! Navios-cruzeiro vão ser atracados no porto para servir como hotéis flutuantes. Um toque de criatividade tropical para um evento que já nasce diferente.


  Qualificação e oportunidade: a COP como motor de mudança social

Talvez o ponto mais bonito de tudo isso seja o impacto na vida das pessoas. Com o programa Capacita COP30, mais de 20 mil paraenses estão sendo treinados em hospitalidade, turismo, línguas, serviços e tecnologia. São jovens, mães solo, trabalhadores informais — gente que talvez nunca tivesse entrado em um hotel de luxo e que agora está sendo capacitada para trabalhar nesses espaços.

A COP, nesse sentido, também é uma chance de inclusão. De crescimento real, para além dos discursos.


  Nem tudo são flores: polêmicas e contradições

É claro que uma transformação tão grande não acontece sem ruídos. Um dos projetos mais controversos é o da Avenida Liberdade, uma via expressa que corta uma área de floresta. Ambientalistas alertam para os riscos desse tipo de obra em uma região já tão pressionada pelo desmatamento. O governo diz que a avenida é necessária para melhorar a mobilidade urbana. A tensão entre progresso e preservação está, mais uma vez, escancarada.

Outro ponto sensível é a possível exploração de petróleo na foz do rio Amazonas. Enquanto o presidente Lula defende o projeto como essencial para o desenvolvimento do país, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, se opõe firmemente. A disputa expõe um dilema que o Brasil, e o mundo, ainda não conseguiu resolver: como crescer sem destruir?


💬 A expectativa de quem vive ali

Para muita gente em Belém, a COP30 representa um misto de orgulho e ansiedade. Orgulho de finalmente ver a Amazônia ocupando seu lugar nas decisões globais. Ansiedade diante do ritmo das obras, do aumento no custo de vida, da preocupação com gentrificação e especulação imobiliária.

Mas também há esperança. Esperança de que essa grande vitrine sirva para mostrar que a Amazônia não é só floresta, mas também gente, cultura, ciência, e possibilidades de um outro jeito de viver — mais integrado à natureza.


  Um evento que pode mudar rumos

A COP30 tem tudo para ser mais do que uma conferência. Pode ser o início de um novo modelo de pensar o mundo, com os saberes tradicionais, os povos originários e os territórios periféricos como protagonistas.

E Belém, com sua alma viva e pulsante, será o palco. A Amazônia, o centro das atenções. Que a voz da floresta se faça ouvir — e que o mundo, enfim, escute.

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